domingo, 12 de junho de 2011

Dia dos Namorados

Data para celebrar encontros, apesar dos desencontros.






O dia dos namorados é um ritual de celebração, onde os casais reafirmam a si mesmo e ao parceiro os sentimentos atribuídos a relação.
Assim como em outras datas comemorativas, como natal e aniversário, acaba sendo um dia propício a reflexão tanto de quem está em um relacionamento quanto daqueles que gostariam de ter um parceiro.
Carlos Drummond de Andrade afirma que não ter namorado é sinônimo de tirar férias não remuneradas de si mesmo. Para o escritor, só não tem um amor quem não sabe o gosto de namorar.
Atualmente homens e mulheres procuram análise, muito embora com queixas distintas. Quanto a este aspecto, existe uma espécie de paradoxo entre o desejar e a possibilidade de se colocar enquanto objeto de desejo do outro.
Percebe-se que o lugar reservado a mulher e aos homens vem sofrendo mudanças, se antes cabia as mulheres se fazer de semblante para provocar o desejo no homem, atualmente observa-se uma inversão.
As mulheres bem poderiam dizer que as flechas do lendário cúpido devem estar vindo com defeito de fábrica, porque apesar de suas frustradas tentativas, encontram dificuldades em encontrar o alvo ideal.
Aí apelam para Santo Antônio, endereçando outra espécie de reclamação, sem parar para refletir se o problema não está no alvo, nas fechas ou cúpido, mas de quem ocupa a posição de arqueiro.
Os homens, recebendo flechadas das mulheres, confessam não saber o quê fazer para tomar estas mulheres, tão decididas de seu alvo, enquanto objeto de desejo.
Como se envolver emocionalmente e desejar uma mulher que se entrega de bandeja enunciando seu desejo sexual de forma a agir como se fosse um homem?
Esta atuação aponta para uma posição explícita de desejante que até então era exclusiva do homem. Como conseqüência os afasta pela própria impossibilidade da mulher se posicionar enquanto amada.
Com esta inversão, o sexo feminino cada vez mais revestido de potência fálica, priva o sexo oposto de todo processo da conquista, que possibilitaria que o homem pudesse vir a se envolver emocionalmente, praticando a ação do verbo amar enquanto o sujeito e não objeto.
No século XXI, observa-se a minimização das diferenças entre homens e mulheres. KEHL (1997), discorre a respeito desta inversão, afirmando que a distância entre os sexos encontra-se no limite da mínima diferença.
A partir da emancipação sexual feminina, as mulheres expressam seu desejo, conquistando um espaço que antes era próprio do universo masculino. Tateando um novo território, buscam cultura, independência financeira, possibilidade de escolha sexual e quantos relacionamentos forem necessários na busca de encontrar o parceiro ideal.
É importante lembrar que a busca de atributos fálicos da mulher se articula a uma tentativa de incrementar a função de sua feminilidade, justamente para ser mais digna do amor do homem, mas nem sempre este plano triunfa.
Enquanto as mulheres almejam ser amadas e desejadas, buscando sucesso profissional e intelectual como incrementos para sua feminilidade e poder de conquista. O homem indaga-se como desejar uma mulher que revela seu desejo de forma tão explícita. Sem a tarefa da conquista, o desejo fica sem espaço, provocando uma série de repetidos desencontros.
Diante desta corriqueira repetição, escutamos a frase: “_A fila anda”. Como se o problema estivesse na escolha do parceiro eleito, convencendo-se de que o próximo será capaz de compreendê-la e amá-la tal como sempre idealizou. Este plano é intangível, especialmente por ser essencialmente imaginário.
A fila anda, o sujeito não se implica e tudo segue de maneira automática. Sem questionamentos as mulheres funcionam de forma a cada vez mais tamponar a falta, ao competir com os homens os atributos fálicos.
Já os homens, muitas vezes insatisfeitos se indagam: o que possivelmente aquela mulher “tão completa” pode querer de mim?
O enunciado já responde: ela já está completa. Então onde está o espaço para o homem?
As mulheres buscaram a liberdade, mas parecem ter perdido sua referência, transitando como o pêndulo de um relógio, de um ponto para o seu oposto. Da completa dependência que as obturava para a impossibilidade de escolher de quem querem depender, ocupando o lugar de causa de desejo.
Pelo receio de se perder no outro, escolhe-se não se satisfazer com ninguém. Por outro lado, seguindo a linha de Drummond de Andrade, tira-se "férias não remuneradas de si mesmo" e isso causa sofrimento.
A ambivalência presente no sujeito feminino as leva a reclamar das dificuldades amorosas, ao passo que se regozijam ao relatar sua potência fálica sintomática, sem poder ainda relacionar sua identificação ao sexo masculino como um possível impedimento ao laço amoroso.
No discurso aparece que não há parceiro bom o bastante, muito embora a procura seja exaustiva. Contudo, o conteúdo latente é justamente a dificuldade no reconhecimento da própria falta, sendo graças a esta constituição subjetiva que existe a possibilidade de encontrar lugar para o outro.
Vale ressaltar que não se trata de propor um retrocesso, que as mulheres abram mão de seu trabalho e conquistas. Muito pelo contrário, o quê se propõe é um ponto de equilíbrio, onde exista a possibilidade de ir ao encontro daquilo que é do desejo: na esfera profissional, social e pessoal, sem precisar ocupar uma posição que não lhe diz respeito, dando mais lugar a feminilidade.
Espera-se que homem e mulher possam fazer trocas, preservando no amor o lugar da falta. Os relacionamentos saudáveis são aqueles que mantêm uma dependência suficiente para se manterem unidos, mas ao mesmo tempo, permitem o crescimento individual e a privacidade necessária para que o casal se mantenha saudável.
Apenas deve-se atentar ao fato de que o lugar de cada um deve ser respeitado, reconhecendo aquilo que é de fato diferente, não só anatomicamente como psiquicamente.
Diante dessas novas configurações, os homens se deparam com o desafio de encontrar um espaço ao lado de uma mulher que não só compete como também rivaliza com ele, tendo dificuldades em se sustentar diante desta falta de lugar sem ter sua masculinidade ameaçada pela parceira que se coloca enquanto rival.
Diante desses desencontros, homens e mulheres relatam a insatisfação quanto a dificuldade de permanecer em um relacionamento estável.
Atualmente existe um patamar de exigência enorme, os namoros quando assumidos, muitas vezes tem a chamada "data de validade", justamente o tempo em que se percebe que a pessoa não corresponde ao ideal.
Inicialmente, é como se o sujeito se apaixonasse por si mesmo, a medida que projeta no outro características que idealizou em um parceiro e que a princípio só existia em seu imaginário.
Passada a fase de se conhecer, aparece a pessoa tal como realmente é, sendo justamente neste momento em que a data de validade expira ou pode ser renovada.
Se renovada, é a fase passível de identificar aspectos amados e odiados no outro, reconhecendo e aceitando os pontos onde o sujeito não consegue ver a si mesmo de forma espelhada no parceiro.
Neste momento pode-se optar por investir na relação, que traz muito prazer, mas também exige flexibilidade e o constante exercício de lidar com as alegrias e frustrações inerentes a vida a dois.
Rubem Alves faz a analogia do jogo de tênis para descrever as relações que tem como objetivo derrotar o parceiro, procurando seu ponto fraco para fazer o corte. Neste exemplo ambos ocupam a posição ativa, competindo pelo mesmo lugar. Os "jogadores" não se dão conta que ao fazer o corte, alcançam algo equivalente ao gol contra do futebol, pois minam a própria relação. Enquanto que no relacionamento estilo frescobol, espera-se que ninguém perca e se acontece um erro, o outro faz o possível para contornar, pois é um jogo onde o prazer está justamente na troca. Nesta relação homem e mulher não são rivais, mais parceiros que ocupam uma posição de forma a conferir ao outro seu devido lugar, viabilizando assim o intercâmbio: o relacionamento.
Não se espera que a relação corresponda ao ideal romântico, onde o espírito poético e a semelhança do casal asseguram a ausência de discussões, isso provocaria um grande “sufoco emocional”, onde não se pode mais distinguir onde um começa e o outro acaba.
A vida a dois se assemelha muito mais a prosa do que a poesia. Os desentendimentos podem ser saudáveis se o casal tem a possibilidade de dialogar. Se na distribuição de energia psíquica não há espaço para a conversa, há de se questionar se ainda há relacionamento.
Até a discussão pode ser lida como um bom sinal, pois significa que ambos estão investindo na relação. Se existe diálogo, há grandes chances de que exista amor, onde a fala aparece como tentativa de preencher a falta, causa de desejo.
Quando o casal encontra formas de chegar a um acordo, a relação é então reavivada e reconfirmada. Daí a importância do dia dos namorados, onde se pode comemorar a possibilidade que o casal encontrou de tornar um encontro possível. Portanto, o amor perfeito é justamente aquele capaz de abarcar e aceitar as imperfeições.
Lacan (1992), questiona a viabilidade de ocorrer um encontro entre pessoas que não tem falta. Para que o desejo se mantenha é preciso preservar no outro o lugar da falta, essa operação só é possível se o sujeito puder reconhecer a falta em si mesmo.
Em uma época onde há o imperativo de igualdade e certa negação das diferenças psíquicas entre os sexos, tem-se como desafio, reavaliar a forma como cada sujeito lida com suas diferenças.
O que mantém a mulher e o homem juntos é o laço simbólico, que pressupõe que ambos são movidos pela falta: “o homem busca saná-la através deste objeto que ele crê ser capaz de preenchê-la, representado pela mulher; esta, por sua vez, busca no corpo do seu parceiro e no poder simbólico que ela própria atribui, o falo que lhe falta” (TEIXEIRA, 2007, p. 84).
O autor acrescenta que a possibilidade de um laço sustentável entre os casais passa pela possibilidade da mulher reconhecer o poder do falo no homem.
Deve-se reconhecendo a falta no outro e também em si mesmo, bem como as diferenças entre homens e mulheres. De onde deriva a possibilidade de um encontro, mesmo que faltoso: repleto de frustrações, prazer e satisfação.
As mulheres precisam compreender que suas armas não estão nos atributos fálicos, mas em sua feminilidade, sensualidade e possibilidade de se fazer desejar, permitindo que o homem a conquiste, à medida que pode disponizar a ele seu devido espaço.
Diante de tantos desencontros, os encontros possíveis derivam da possibilidade de fazer laços simbólicos com quem se escolhe amar, mesmo que de forma faltosa e imperfeita, estando justamente no ponto de falta: o enamoramento perfeito.

REFERÊNCIAS
LACAN, J. O Seminário. Livro 8: A Transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992

KEHL, M. A mínima diferença. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

TEIXEIRA, M. A feminilidade nas dimensões real, simbólica e imaginária. In: Revista da Associação Psicanalítica de Curitiba. Vol.1, nº 1. Curitiba: APC, 1997.

http://www.rubemalves.com.br/tenisfrescobol.htm (Acessado em 05 de junho, 2011).

http://pinap.sites.uol.com.br/drummond.htm (Acessado em 05 de junho, 2011).

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LINK DA ENTREVISTA DO DIA DOS NAMORADOS NA REDE T.V.+

http://www.redetvmais.com.br/entrevista/video/372.html





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Psicóloga Caroline Moreira de Oliveira
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