quarta-feira, 7 de maio de 2014

Natureza feminina: decifra-me!

Às vezes me pergunto se aquilo que nos inspira, também expira.
Há momentos em que nos sentimos extasiados de inspiração e de repente, o prazo de validade daquilo que antes nos movia acaba.
O desejo sempre desliza, não se fixa apenas em um objeto, é inapreensível. Temos a constante sensação de que a felicidade suprema é um bem inalcansável.
De acordo com os constructos freudianos, o indivíduo visa a felicidade, muito embora crie barreiras para não atingi-la.

"(...) enquanto estivermos imersos no mundo simbólico, enquanto pertenceremos a esse universo em que tudo assume mil e um sentidos, jamais chegaremos à plena satisfação do desejo, porque, daqui até à satisfação plena, estende-se um campo infinito, constituido de mil e um labirintos." (NASIO, 1993, p.38).

Estou nesse labirinto que pode ser nomeado como tempo ou realidade, já dando margem a uma infinidade de interpretações...
Sinto falta de um passado que nunca existiu (exatamente como eu lembro) e de um futuro que eu vislumbro estar por vir (e que jamais será todo como eu imagino).
Meu presente está em algum lugar entre esses dois espaços e não importa o quanto eu ande, jamais posso o agarrar.
Sentimento saudosista do que já passou, mas ficou.
Esperança de encontrar em algum tempo um pouco daquilo que já se foi em meio à novas configurações, na minha realidade.
Expectativa de que a vida me surpreenda, muito embora eu saiba que sempre temos alguma (ou toda) responsabilidade dos eventos que nos ocorrem, pois o desejamos, mesmo que de forma inconsciente, ainda que sem saber do próprio desejo.
De certa forma, nosso futuro é só um espelho que reflete os pensamentos e atos do passado: do "tunel do tempo" de cada um e de todos aqueles que ora amamos ora odiamos, mas que sem dúvida, foram significantes o bastante para fazerem marcas e auxiliarem na construção de quem somos.
O quê eu realmente penso? Não pode ser escrito.
Prefiro jogar palavras ao vento e esperar que a natureza se encarregue de seu trajeto.
Não me peça para ser direta, não estou pronta para me comprometer a esse ponto.
Digo frases soltas e jogo questões enigmáticas, tendo a esperança de que você decodifique meus enigmas, pois eu também não tenho a resposta para as minhas perguntas.
E quanto mais procuro me entender, menos certezas encontro.
Os paradigmas fazem parte do meu passado, presente e futuro, pelo simples fato de que a minha natureza é feminina.

REFERÊNCIA:
NASIO, J. D. Cinco Lições Sobre a Teoria de Jacques Lacan, Jorge Zahar, Rio de Janeiro: 1993.

Discussão do caso "O Homem dos Lobos"


CASO CLÍNICO: História de uma neurose infantil. “Homem dos Lobos”

Capítulo IV – O sonho e a cena primária (FREUD, 1918).

Caroline Moreira de Oliveira
O presente texto contempla o conteúdo do capítulo O sonho e a cena primária, do texto de 1918 de Freud: História de uma neurose infantil, utilizando-se de fragmentos que correspondem às interpretações freudianas, articulando ao conceito lacaniano de fantasma.
De acordo com Freud (1976), o sonho possibilitou a ativação da cena primária, levando o paciente de volta à organização genital.
Quando criança, Serguéi Pankejeff tinha medo da figura de um animal ereto conhecido apenas em histórias de contos. Mais tarde o livro foi identificado pelo próprio analisante como sendo: O lobo e os sete cabritinhos.
Em análise, o jovem analisante relata a recordação de seu primeiro sonho de ansiedade, descreve seu medo ao avistar uma árvore em cujos galhos havia lobos brancos com orelhas empinadas e caldas de raposas. Os lobos o fitavam, quietos e imóveis em frente à janela.
De acordo com Dunker (1996), no sonho havia lobos nos galhos da nogueira, sendo que um deles “olhava fixamente para o paciente que acorda sob efeito de angústia” (p.161).



Em posteriores associações, o jovem diria que esta árvore era na realidade uma árvore de Natal. Uma vez que a data do seu aniversário e do Natal coincidiam, pode precisar a idade de quatro anos quando teria tido este sonho. Por ser uma data de comemoração dupla, esperava receber presentes dobrados. Em seu sonho, os presentes foram substituídos por lobos, e o sentimento predominante era o medo de ser devorado pelo lobo, que segundo Freud, representava a figura paterna.
Freud (1976), afirma: “o lobo do qual tinha medo era, sem dúvida, seu pai; mas o medo do lobo era condicionado pelo fato de a criatura estar numa posição ereta” (p.52).
Quando o analista questiona a respeito de como os lobos teriam subido nas árvores, o jovem associa a uma história contada pelo avô, que faz alusão ao complexo de castração.

A história dizia assim: um alfaiate estava sentado trabalhando em seu quarto, quando a janela se abriu e um lobo pulou para dentro. O alfaiate perseguiu-o com seu bastão – não (corrigiu-se), apanhou-o pela cauda e arrancou-a fora, de modo que o lobo fugiu correndo, aterrorizado. Algum tempo mais tarde, o alfaiate foi até a floresta subitamente viu uma alcatéia de lobos vindo em sua direção; então trepou numa árvore para fugir-lhes. A princípio, os lobos ficaram perplexos; mas o aleijado, que se achava entre eles e queria vingar-se do alfaiate, propôs que trepassem uns sobre os outros, até que o último pudesse apanhá-lo. Ele próprio – tratava-se de um animal velho e vigoroso – ficaria na base da pirâmide. Os lobos fizeram como ele sugerira, mas o alfaiate reconhecera o visitante a que havia castigado e de repente gritou, como fizera antes: “Apanhem o cinzendo pela calda!” O lobo sem rabo, aterrorizado pela recordação, correu, e todos os outros desmoronaram (FREUD, 1976, p.42-23).

Freud (1976), aponta para o desconhecimento da cena e a deformação do material presente no sonho, tanto no que tange o medo da morte quanto o tema da castração.
O autor chama a atenção para o período em que o sonho foi sonhado, provavelmente aos quatro anos, período onde a criança começa a investigar questões referentes à sua origem e em um segundo momento, quanto à diferença sexual anatômica.
O sonho da cena primária possibilitou que o analisante atingisse uma nova fase de organização sexual. “Descobriu a vagina e o significado biológico do masculino e feminino. Compreendia agora que ativo era o mesmo que masculino, ao passo que passivo era o mesmo que feminino” (FREUD, 1976, p.57).
Freud (1976), aponta para a memória inconsciente do sonhador, que teria visto a cópula dos pais na idade de um ano e meio. Esta relação sexual teria ocorrido em circunstâncias não inteiramente habituais: a mulher curvada como um animal e o homem ereto.
Ao relatar tal lembrança da cena primária, inicialmente conferiu ao evento como sendo um ato de violência, contudo, a expressão da mãe de prazer desmentiu a impressão inicial, sendo retificada pelo reconhecimento de uma experiência prazerosa.
Tal lembrança remete a figura do lobo ereto, que sua irmã mostrava a ilustração da história: O lobo e os sete cabritinhos, figura que o amedrontava, possivelmente por remeter a memória inconsciente de seu pai ereto realizando a relação sexual a tergo com sua mãe.
O autor descreve a seqüência dos fatos por meio de reconstruções e fragmentos que se dá inicialmente por meio de uma vivência real, a observação do coito dos pais em uma posição de passividade ao observar a atividade dos pais, quando ele tinha a idade aproximada de um ano e meio.
E as conseqüências desta primeira impressão quando a criança consegue dar um significado ao que viu, na idade em que teve o sonho, aproximadamente quatro anos.
A partir disso, aparece o medo da castração, os problemas com a sexualidade e as fobias que tem a função de evitar o medo de algo terrível, o “receio” de ser devorado pelo pai. Como conseqüência, o medo do pai se transformou em fobia de lobos.

Sua ansiedade era um repúdio do desejo de obter do pai satisfação sexual – tendência à qual se deve a formação do sonho na sua cabeça. A forma assumida pela ansiedade, o medo de ‘ser devorado pelo lobo’, era apenas a transposição (como saberemos, regressiva) do desejo de copular com o pai, isto é, de obter satisfação sexual do mesmo modo que sua mãe (FREUD, 1976, p.56).

O analista aponta para a identificação do analisante com a mãe castrada e a dificuldade de se posicionar enquanto homem fálico na vida adulta.
Freud (1976), assinala que para uma apreciação mais adequada da fobia de lobos, deve-se reconhecer que tanto o pai quanto a mãe transformaram-se em lobos, muito embora a mãe ocupasse o lugar de lobo castrado e o pai de lobo fálico, o animal que subia e que portanto, posicionava-se de forma ereta, a posição ativa era o elemento causa de medo do analisante.
Enquanto criança vivenciava situações de uma posição de passividade, com propósitos masoquistas de ser castigado ou espancado. Ora desejava que seu pênis fosse tocado pela babá ora tentava provocar o pai até que o batesse.

Seu objetivo sexual passivo, deve ter sido, então, transformado em feminino, expressando-se como ‘ser copulado pelo pai’, em vez de ‘ser por ele espancado nos genitais ou no traseiro’. Esse objetivo feminino, no entanto, sujeitou-se à repressão e foi obrigado a deixar-se substituir pelo medo do lobo” (FREUD, 1976, p.57).

Para Dunker (1996), “o paciente se inclui na cena retendo a posição imediatamente anterior à construção da castração, isto é, a satisfação anal” (p.161).
Freud (1976), assinala que houve um efeito patogênico da cena primária e da alteração que a sua revivescência produziu no desenvolvimento sexual do paciente” (p.54).
O autor faz menção à vida erótica do jovem após a maturidade, ressaltando a “tendência a ataques compulsivos de paixão física, que surgiam e desapareciam, na mais desconcertante sucessão” (p.52).
Adiciona ainda, a condição atrelada ao seu amor compulsivo na vida adulta e a sua preferência pelo “coito efetuado por trás – more ferarum [a maneira dos animais]” (FREUD, 1976, p.52). Segundo o analista, este tipo postura era a única que lhe rendia algum prazer. Neste caso, a mulher precisava assumir a postura assumida por sua mãe. Possivelmente a sua satisfação sexual se dava pela sua projeção na mulher em uma posição passiva.

DISCUSSÃO DO CASO

Freud toma enquanto analisante o jovem de vinte e poucos anos, Serguéi Pankejeff que descreve seus pensamentos de infância. Em análise ocorreram inúmeras associações relacionadas à fobia e seus sintomas, colaborando para a realização da teoria freudiana a respeito da angústia em torno do complexo da castração e a organização da vida sexual do sujeito envolvendo a cena primária, suas rememorações e possíveis retificações.
Dunker (1996), cita a concepção lacaniana que denota Serguéi Pankejeff tomado em seu fantasma.
“A construção de Freud caminha no sentido de que a cena primária, olhar a relação dos pais (ad tergo), significa a castração como perda do pênis ou por deslocamento, do rabo do lobo” (DUNKER, 1996, p.161).
De acordo com o autor, há um ponto de fixação no caso do Homem dos Lobos (1918), que aponta tanto para a analidade quanto para a pulsão escópica, podendo-se fazer uma distinção da fixação anal do fantasma escópico.
O fantasma pode ser identificado na História de uma neurose infantil (FREUD, 1918), como marcas inconscientes da estrutura psíquica do sujeito.
A infância é o período de formação de fantasma, o qual corresponde a uma frase iniciada pelos pais e construída pelo sujeito. Essa construção envolve a pergunta e a tentativa de resposta a três enigmas que fundam o fantasma do sujeito, questões relativas à existência, a sexualidade e a morte, elaboração que marca a organização genital do sujeito, o corpo pulsional e a forma singular como maneja sua libido.
Seguindo a leitura lacaniana, Dunker (1996), enumera as três dimensões do fantasma: simbólica, imaginária e real. O autor menciona a presença do fantasma como: “lugar de certeza quanto à consistência do Outro e sua demanda; articulador das relações entre prazer, satisfação e gozo; posição de retenção narcísica da identificação ao objeto” (p.164).
Evidencia-se a constituição do fantasma em torno da cena primitiva, demarcando também os posteriores sintomas do analisante e o manejo clínico empregado por Freud para conduzir esta análise.
Freud (1976), menciona as etapas de transformação do material, a cena primária, a história do lobo e o conto O lobo e os sete cabritinhos, como elementos constituintes da formação do sonho.
Assinando ainda o “desejo de obter do pai satisfação sexual – a compreensão de que a castração era uma condição necessária para isso – medo do pai” (p.53).
Concluindo que os sintomas eclodiram como uma formação do inconsciente e o sonho como representante do conflito edípico, pois para o analisante era inconcebível admitir o desejo pulsional erótico direcionado à figura paterna, encontrando na fobia uma tentativa de resolução de conflito psíquico.

REFERÊNCIAS

FREUD, S. (1918). História de uma neurose infantil. In: ______. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol.XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

DUNKER, C. Lacan e a clínica da interpretação. São Paulo: Hackers, 1996.

Notas pessoais sobre a maternidade


* Toda mulher deveria ter a coragem de encarar essa transformação!
* Se o fizer, saiba que como toda escolha, inclui ganhar _um serzinho maravilhoso_ que diz muito da mãe, do pai dele e das famílias materna e paterna e também perder.
Tem-se que abrir mão do próprio narcisismo para enfrentar essa empreitada: maravilhosa, mas também cheia de surpresas com as quais jamais imaginou... Desde beijos jogados ao ar, às febres inusitadas.
* Você vai mudar! Seu casamento vai sofrer transformações permanentes e a relação com seu esposo também. O casal que dará o tom dessa transformação!
* Inicialmente saiba que a falta de sono e a própria mudança de "status": pai e mãe, já faz um rebuliço grande, mas nada que o tempo e a elaboração não acomodem.
* Não! Não tem como se preparar antes! Ler livros ajuda, mas não há uma cartilha que nos impeça de sentir certa dose de sofrimento com as mudanças ocorridas. Isso faz parte do processo de transformação e de crescimento.
* Antes do filho nascer, é muito difícil se imaginar abrindo mão de tudo aquilo que cremos ser parte constituinte do nosso ser: seja trabalho, estudos ou vida social. Mas quando o bebê chega e nos deparamos com tamanha fragilidade e necessidade de carinho, cuidado e afeto, não é difícil esquecer (mesmo que apenas inicialmente) da vida profissional e inclusive pessoal.
* É como se precisássemos abrir mão por um tempo de todos os outros papéis, para aprender a ser mãe. Muito está no nosso instinto, mas exige tempo e doação aprender a conhecer a cria e se deixar conhecer por ela.
* Antes do bebê nascer é comum nos imaginarmos dando conta de TUDO que fazíamos antes da maternidade, apenas somando o fato de que seremos também mães.
* Natural não se imaginar abdicar do trabalho por um tempo ou dos passeios, jantares e vida social. Mas depois do parto, algo se transforma dentro da gente... É como se precisássemos de um tempo para elaborar psiquicamente todas as mudanças. É tanto aprendizado e tantos significados novos para administrar, que acabamos abrindo mão, mesmo que só por um tempo, não porque alguém pediu ou disse que TEM que ser assim, mas porque de fato, esse tempo é necessário. Não para o outro, mas para gente mesmo.
* Corpo: quando disse inicialmente que é preciso abrir mão do próprio narcisismo, implica em poder doar-se ao outro e saber que a partir da data da concepção, você jamais pensará apenas em si mesma. Desde o que ingere, enquanto o bebê ainda está no útero ou em fase de amamentação até como administra seu tempo ou se dá ao direito de ter prazer, depois que está maiorzinho.
Mas o seu corpo pode voltar a forma e depois de um tempo é natural voltar a se sentir bonita e feminina, não apenas uma mamífera estilo Discovery Channel (como EU me senti no final da gestação e primeiros meses de amamentação).
Tentei desviar daquelas reflexões clichês, que tratam da maternidade de forma romanceada. Confirmo que os ditos populares são verdadeiros e concluo que as teorias de Psicologia e Psicanálise também. Então desvio dessas duas linhas, pois troca de experiência implica em relatar a própria subjetividade.
* No entanto, faço um adendo: A Psicanálise diz que quando nascemos, temos uma dívida com nossos pais, sempre me senti assim... E que essa dívida só é paga quando temos um filho. Quem se torna mãe ou pai entende o porquê.
* Outro adendo clichê: sim, vale muito a pena! O ser humano é o animal que dá mais trabalho para criar e no entanto, governa o mundo! Então, isso já diz muita coisa.
* Voltando as notas: você vai descobrir uma força interior que nem sabia que existia!
Talvez essa energia, depois de circular, digo: sair da relação mãe e filho, pode ser recanalizada de maneira produtiva no trabalho. Parto do pré-suposto que a maternidade deixa as mulheres mais confiantes e decididas. Quer potência maior que gerar vida dentro do próprio útero?
* Curiosidades: Você pode virar uma verdadeira Leoa! Esse é um efeito colateral da maternidade... Vez ou outra vai se pegar amaldiçoando os vizinhos que chegaram de salto alto, arrastando cadeiras às 3 hrs da manhã e acordaram seu filho. Você vai brigar mesmo com aqueles que você ama, por motivos aparentemente banais e eles vão te entender.
* Para quem pretende ser mãe: prepare-se! A vida está prestes a virar de ponta cabeça e não se surpreenda se você gostar! Pense que é uma chance em um milhão de se reinventar, sendo a mesma pessoa, mas vendo a vida sob uma ótica completamente diferente!