segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Boa criança má

Não sou uma criança boa
Seria mentira dizer que
Sou aceita e querida por todos
Tenho certeza que
Deve haver uma razão
Sinto dentro de mim que
Não sinto amor
Nem me atrevo a afirmar que
Acredito que os colegas de classe me querem bem
Sinto a cada dia que passa que
Nunca tive um lugar na minha família
Não ousaria dizer que
Sou boazinha
Preciso dizer a verdade!
Todos pensam que represento apenas a maldade...


Agora leia o poema de baixo para cima e perceba o contraste de tais afirmações. Após a leitura, veja a conclusão na seqüência.


Este poema foi inspirado no estilo de escrita de Cecília Meirelles.

Os poetas podem expressar a partir da arte o duplo sentido que as palavras podem conter.

Constantemente, nos denunciamos a partir de atos que nos desmentem, os chistes e atos falhos são exemplos que presentificam conteúdos inconscientes.

Ou mesmo gestos que fazem menção a outra coisa, apesar de dizermos conscientemente justamente o contrário.

Sabemos que o amor esta atrelado ao ódio.

O bom contém em parte, o ruim.

Só sabemos que a vida pode ser doce, se em algum momento experimentamos o amargo.

Não há prazer sem sofrimento.

Nem mesmo crescimento sem dor ou luto do que já se foi.

A criança tida como malvada, pode estar fazendo um pedido de afeto.

Enquanto aquela que é tida como boa, pode estar se auto-agredindo a medida que nega seu próprio desejo.

As polaridades exacerbadas tendem a chamar atenção.

Nem tão bom, nem tão mal.

Precisamos da agressividade, muitas vezes interpretada como maldade, para se auto-afirmar, competir, ir de encontro aos ideais.

Ninguém disse que seria uma tarefa simples encontrar-se com o desejo.

A bondade excessiva também é preocupante, pois nos deparamos com pequenos sujeitos que já não se dão o direito de se deixar levar pelo princípio do prazer, tamanha a severidade do supereu, aquela voz interna severa que não se permite desejar.

O princípio do prazer é tão essencial aos seres humanos quanto o princípio da realidade.

Não se trata de fazer uma exaltação ao comportamento perverso, tão pouco a permissividade.

Mas que a bondade e maldade possam se representar na justa medida.

Portanto, que cada um de nós saiba se encontrar com a criança boa e má que nos habita, sempre que necessário.

Um comentário:

Vanessa disse...

Carol
eu achei tão lindo ouvir tu lendo esse poema muito fofo que criou!